A II Feira Nacional da Reforma Agrária, que começou quinta-feira, dia 4, e terminou no domingo, dia 7 de maio, no Parque da Água Branca, em São Paulo, ofereceu ampla programação cultural, com shows, debates e presença de militantes, políticos e artistas, mas o verdadeiro espetáculo ficou por conta das trabalhadoras e trabalhadores rurais que expuseram e comercializaram os frutos de sua luta e empenho.
Visitei a feira no sábado, dia 6, quando pude acompanhar a conferência “Alimentação Saudável: um direito de todos e todas” e gastar um bom tempo apreciando os corredores que estavam apinhados de visitantes, de trabalhadoras, de trabalhadores rurais, daquele orgulho de produzir “sem veneno” e de biodiversidades que são a base das diferentes culturas alimentares ali representadas.
De plantas alimentícias não convencionais a pães veganos, a II Feira Nacional da Reforma Agrária parece ter avançado no incorporação do discurso da agroecologia, na crítica aos agrotóxicos e em outras pautas. Escutei atenta a explicação de um trabalhador que expunha suas sementes de milho crioulas ainda na espiga como uma obra de arte, repleta de cores, e de como ano a ano o cultivo mudava suas matizes. Como não admirá-lo?
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Visitei com esperança a mesa da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que lançou a plataforma #ChegaDeAgrotoxicos durante o evento, que nos dá indícios de que a transição agroecológica só poderá ser efetiva com reforma agrária e garantia do direito de acesso à terra. Ademais, vale lembrar que, apesar da contaminação dos alimentos com agrotóxicos ser um problema de saúde coletiva, os piores impactos, como as intoxicações, quem sofrem são as trabalhadoras e os trabalhadores rurais e suas famílias que manipulam, lidam e moram perto das áreas onde são pulverizados. Estamos falando aqui de violação do direito à saúde. Como não divulgá-lo?
Em relação à outras pautas, fiquei surpresa com a oferta de opções vegetarianas/veganas no ‘Culinária da Terra’, espaço onde os pratos típicos de diversas regiões do Brasil eram vendidos. Havia, por exemplo, Pizza de Jaca e Caldinho de Feijão no espaço reservado ao estado de São Paulo, e “Entrevero” vegetariano/vegano no espaço reservado ao estado do Paraná. Fiquei bem curiosa para experimentar o “Entrevero”. A versão tradicional é feita com vários tipos de carne, pinhão cozido e temperos. Na versão vegetariana/vegana, as carnes foram substituídas por legumes como cenoura e couve-flor. Enfrentei uma multidão para alcançar a barraca, mas quando eu cheguei já tinha acabado. Fiquei tão feliz pelo sucesso que nem consegui ficar chateada de ter perdido a chance de experimentá-lo. Acredito que a discussão das diversas questões relacionadas à produção de carnes, dos impactos ambientais aos direitos animais, pode encontrar na agroecologia uma possibilidade de amplificação. Como não relacioná-las?
Voltei para casa com a certeza de que, em meio a tantas turbulências, persistir na construção de um outro cenário para a agricultura e a saúde coletiva, por meio da reforma agrária, da agroecologia e da superação do uso de agrotóxicos, seja uma opção esperançosa pela vida.