A antiga Fazenda Annoni, antes de ser ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na madrugada do dia 29 de outubro de 1985, possuía uma área de 9,3 mil hectares, capim e algumas cabeças de gado. O latifúndio tinha sido desapropriado em 1972 para assentar remanescentes da Hidrelétrica de Passo Fundo, mas o processo entrou em morosidade na justiça.

Treze anos mais tarde, de forma organizada, mais de sete mil pessoas fizeram da Annoni um dos maiores acampamentos do MST no estado. As primeiras famílias saíram em julho de 1986 para serem assentadas na Fazenda São Pedro, em Eldorado do Sul. A definição de quem ficaria na Annoni ocorreu ainda em 1990, mas as últimas famílias saíram somente dois anos depois.

Luta que segue

A luta não parou por aí. Várias marchas e ocupações que duraram meses foram realizadas no Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agraria (Incra) e Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com o objetivo de pressionar o governo para desapropriar áreas para assentar famílias acampadas. A luta pela democratização da terra na fazenda Annoni provocou a morte da Sem Terra Roseli Nunes que, com apenas 33 anos, se tornou símbolo de resistência em defesa de seu povo.

Em meio à luta, Rose deu à luz a primeira criança nascida no acampamento, batizada de Marcos Tiarajú, em homenagem ao índio Sepé Tiaraju. Depois, em março de 1987, durante protesto de agricultores, um caminhou desgovernado atingiu uma barreira humana formada na BR 386, em Sarandi. Além de ter ferido diversos agricultores, o caminhão tirou a vida de Rose. Hoje, muitas pessoas fazem referência à frase dita por ela, “Prefiro morrer na luta do que morrer de fome”. Além disso, sua história inspirou, também, o filme “Terra para Rose”, documentada por Tetê Moraes.

423 famílias

A antiga fazenda Annoni, hoje, está dividida em sete comunidades, onde vivem 423 famílias. A maioria conta com escola, ginásio de esportes, igreja e espaço de lazer, além de uma delas possuir Posto de Saúde, com atendimento médico e odontológico. Os filhos das assentadas e assentados podem estudar da educação inicial até a superior sem precisar sair da área. Através do Instituto Educar, em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul e Instituto Federal da Fronteira Sul, dois cursos são oferecidos, o técnico em agropecuária com habilitação em agroecologia, integrado ao ensino médio, e o curso superior em Agronomia.

Para garantir trabalho e renda aos moradores foi fundada, no ano de 2006, a Cooperativa Agropecuária e Laticínios Pontão Ltda (Cooperlat), que trabalha com industrialização e comercialização de leite e envolve aproximadamente cem famílias Sem Terra e outras da região. Outra cooperativa, fruto da luta dos Sem Terra, é a Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), criada em 1990. Na Annoni, as famílias também produzem leite para a Cooperlat e adotaram como política interna a produção de alimentos para subsistência, onde o cultivo ocorre de maneira coletiva e cada um colhe, da horta ou pomar, o suficiente para se alimentar.

A história da Fazenda Annoni marca a vida de muitas famílias. A 40ª Romaria da Terra resgatará a história de pessoas que não se intimidaram diante das dificuldades e fará memória daqueles e daquelas que lutaram, com muita garra e esperança, para garantir os direitos de seu povo.

Veja mais informações sobre a 40ª Romaria da Terra aqui.

Fonte: Arquidiocese de Passo Fundo

Deixe um comentário