O tema é a atual situação do país. Talvez você não queira mais ouvir falar nem ler sobre isso. Se assim for, com certeza, não é só você… Mas, na hipótese de ainda ter interesse sobre o assunto, aí podemos refletir. Pergunto, então: A questão é com Dilma, Lula, Cunha, Temer, Moro, com a Petrobrás, com os grampos, com o golpe? Sim, mas não só. É um problema com o PT, com o PMDB…? Sim, mas não só. Trata-se de um desgaste dos partidos e, no limite, da política em geral? Parece que sim, mas não só. Há também uma crise de ordem econômica, que da primeira decorre. Sim, mas também não só. Dizem uns que o lameiro tem suas origens no âmbito do jeitinho brasileiro. Há muitas conexões, mas não é só isso.

A corrupção, essa “senhora idosa” que todos maldizem, também marca presença efetiva na esfera do esporte, em grandes empresas, em meios de comunicação de massa, nas relações cotidianas de todas as gentes e até no Judiciário… Ou não? Evoca uma questão ética ou de falta dela. Por conta disso e de seus derivados, temos problemas que afetam a democracia nossa de cada dia, a justiça social, os direitos humanos, o Estado Democrático de Direito e as instituições em geral. Mas, de onde advém a inclinação para a corrupção? Quem poderá responder: a Antropologia, a Psicologia, a Sociologia, o Direito, a Teologia? Será um desdobramento do pecado original estampado na figura da “serpente” que perverteu “Eva” e “Adão”; e da gana que levou Caim a matar Abel?

Nosso problema não é de agora. A corrupção, juntamente com as escandalosas desigualdades socais, têm causas históricas e reservam impactos para os tempos vindouros. Algo que, infelizmente, está a provocar cada vez mais nojo da política e dos políticos. Sim, mas não só. Ademais vem causando intolerância, ódio, discórdia, atritos, conflitos entre pares e oponentes, o que é péssimo. Mas, tudo o que estamos vivendo não pode se reduzir a isso. Também é uma excelente oportunidade para analisar, dialogar, aprofundar, mudar, construir outros caminhos.

Os tempos de agora estão conturbados, complexos, marcados por uma crise sistêmica. E convém ressaltar que, para crises sistêmicas, torna-se necessário buscar saídas sistêmicas. Não há soluções mágicas. Que um impeachment resolva, não é verdade, ainda mais se tiver conotação de um golpe. Fosse fácil assim, bastaria fazer impeachment deste ou daquele governante, empresário, dirigente de time de futebol, diretor de canal de televisão, juiz ou doleiro que tudo estaria resolvido.

Não se trata de pregar o relativismo total e a ausência de alternativas. Mas, há muito a ser considerado como não absoluto para que possamos fazer avançar a democracia, a sociedade justa, solidária, sustentável e ética. Por outro lado, também precisamos agir para que o relativismo não nos sequestre ou as posições intolerantes não terminem por nos bestializar. O Brasil é muito mais do que uma federação continental habitada por “coxinhas” e “petralhas”. A história não é um mero “mar de lama”. Queiramos, pois, que o momento em que nos encontramos não seja o preâmbulo de um retrocesso nas conquistas populares.

Que as redes sociais, sem as quais cada vez menos as pessoas conseguem viver, possam ser utilizadas para ações construtivas e não infernais. Que a política, diante da qual alguns insistem em afirmar que são “neutros”, “indiferentes” e que não precisam dela, seja nossa melhor prática. Estamos em uma encruzilha: podemos dar um salto de qualidade ou regredir; qualificar a democracia ou pô-la a perder. É essencial superar os reducionismos e fundamentalismos, vendo a realidade de forma crítica em suas múltiplas dimensões, articulações e complexidades. É preciso uma nova educação para um novo sujeito humano, respeitoso e democrático. Sim, mas não só. Também para um novo ser social, ético e político!

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