Impostos contribuem para a desigualdade no Brasil

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Em entrevista concedida ao Olhar da Cidadania, o filósofo Vladimir Safatle, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) comentou sobre como os impostos são desiguais no Brasil. O filósofo contrapõe a ideia de o país ser um exemplo de grandes arrecadações via contribuinte. “É uma falácia que o Brasil é um estado de alta tributação. Essa ideia só vale para o pobre, não para os ricos”.

Safatle continua o pensamento comparando nações. “Ser rico no Brasil é o melhor negócio que você tem, o imposto de renda máximo é 27,5%. Isso não acontece nem em países liberais. Nos Estados Unidos, a faixa maior é 32%, na Inglaterra – pátria do liberalismo –, é 50%. Imagina você propor 50% no Brasil?”.

Para exemplificar o que isso representa, o filósofo compara a taxação de bens. “Se quiser entender o que é o Brasil, faça a seguinte reflexão: se você tiver um carro ou moto, você paga IPVA. Agora digamos que você ‘cansou’ do carro e quer comprar um helicóptero, não paga mais IPVA. Você quer ‘trocar’ sua moto por um jato particular, não tem IPVA”.

Mas o que isso representa na prática? Para Safatle, o que o Brasil deixa de arrecadar por não taxar grandes fortunas atrasa o desenvolvimento da nação. “No Brasil não tem imposto sobre jato privado, helicóptero, iate. Mas você paga para ter um carro, uma moto. Eu fiz a conta de quanto o estado perde com essa brincadeira, 5 bilhões de reais por ano. Isso é maior que o orçamento da USP, uma faculdade com 100 mil alunos, que tem um dos nomes mais respeitados da América Latina”.

Durante a entrevista, Safatle também explicou como as reformas propostas pelo governo podem aumentar a desigualdade.

“As reformas da previdência e trabalhista são o fim do que ainda restava de direitos trabalhistas. A reforma previdenciária vai obrigar você a trabalhar 49 anos para se aposentar integralmente; a reforma trabalhista coloca mulheres grávidas em situações em que elas prestam serviço em condições precárias”.

E comenta que é falsa a ideia de que essas reformas beneficiarão toda a população. “Claro que essas medidas trarão um crescimento econômico. Mas que tipo de crescimento é esse? Vai ser um crescimento brutalmente concentrado, e que produzirá uma pauperização maior, pois você não terá mais garantias e leis para proteger quem trabalha”.

Para finalizar, o filósofo afirma que o Brasil é um país pensando para poucos. “As reformar propostas querem criar um país de 15 milhões de habitantes, são pensadas somente para essa parcela. Tanto faz os outros 185 milhões de pessoas restantes”.

Para ouvir a entrevista completa com o filósofo, clique aqui.

 

Por Mateus Vasconcellos
Fonte: Observatório do Terceiro Setor

 

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