Arquitetos rebeldes

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Ocupar e resistir: ampliando a visão do possível

“Imaginemos que somos arquitetos, todos dotados de uma ampla gama de potencialidades e capacidades, inseridos num mundo físico e social pleno de restrições e limitações manifestas. Imaginemos ainda que estamos nos empenhando em transformar o mundo. Na qualidade de habilidosos arquitetos inclinados à rebeldia, temos de pensar estratégica e taticamente acerca do mudar e de onde mudar, sobre como mudar o que e com que ferramentas. Porém também temos de continuar de alguma maneira a viver neste mundo. Temos aqui o dilema fundamental que se acha diante de todo aquele que se interessa por uma mudança progressista.”
David Harvey, em Espaços de Esperança.

 

Na primeira edição do Arquitetos Rebeldes, em 2015, debatemos alternativas de moradia, trabalho e atuação profissional relacionadas às políticas habitacionais federais de Regularização Fundiária e o Minha Casa Minha Vida. De lá pra cá, vivemos uma série de retrocessos. Vivemos, ou, assistimos.  Tendo nossa vida cotidiana moldada pelo capital, em que a velocidade e o excesso de informação, a fragmentação da cidade e a consequente anulação da dimensão cidadã (e revolucionária) do espaço público, estamos anestesiados diante do golpe. Alienados, impotentes, resignados… temos uma visão limitada do possível.

Em 2017, a segunda edição do Arquitetos Rebeldes busca configurar-se como um espaço-tempo para imaginar alternativas diferentes das impostas por esta realidade, entretanto, nesta realidade: reconhecer as possibilidades dentro das restrições do Brasil contemporâneo. Ampliar, portanto, nossa visão do possível.

“De onde […] haverá de vir a coragem de nossa mente?”, pergunta Harvey. Ao nos reunirmos, nos dias 25 e 26 de agosto, novamente na cidade de Laguna-SC, buscamos encontrar com novas experiências de pensamento, novas visões de mundo. Do pensamento e da ação solitários ou isolados, propomos a descoberta a partir da instância coletiva.  Afinal, a mudança política depende da alteração do pensamento e da ação em todas as escalas da realidade.  Dialeticamente, “ao mudar nosso mundo, mudamos à nós mesmos”, já afirmaram Harvey e tantas outras pessoas.

Neste simpósio, interessa-nos especialmente pensar a atuação do ser político arquiteto-urbanista neste processo, e sua relação com outras escalas, como a das instituições, do Estado, dos movimentos sociais. A atitude e a prática rebelde e insurgente exigem ultrapassar a concepção fragmentada do pensamento. Por isso, o intuito do simpósio é colocar o arquiteto-urbanista para conversar com outros atores que pensam/constroem/praticam a cidade em seu cotidiano de trabalho/movimento/estudo para reconstruirmos juntos nossa rebeldia.

A segunda edição do simpósio Arquitetos Rebeldes lança, então, a seguinte questão: diante do retrocesso dos direitos sociais no contexto do golpe, quais as alternativas de vida para as classes populares que lutam por moradia, e, em associação à isso, quais as alternativas de trabalho para o arquiteto-urbanista?

 

Fonte: Arquitetos rebeldes

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