A rebelião secundarista agora nas telas

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Participação política é um direito, nunca é demais lembrar em tempos tão sombrios. O filme Escolas em Luta é um retrato — um respiro, re-inspiração da memória — de como jovens secundaristas reivindicaram esse lugar em 2015 e 2016, a partir da ocupação de escolas e protestos nas ruas, contra medidas antidemocráticas na área de educação.

Tudo começou quando, em outubro de 2015, sem nenhuma consulta pública junto a professores, pais e estudantes, o governo do Estado de São Paulo anunciou numa entrevista de televisão que 94 escolas seriam fechadas no ano seguinte, como parte de um plano de reorganização do ensino. Mas esse modus operandi da educação pública no estado mais rico e um dos mais conservadores do Brasil sofreu um grande revés.

Os secundaristas reagiram ao decreto anunciado pelo governador Geraldo Alckmin e, em poucos dias, por meio de redes sociais e aplicativos, organizaram uma reação surpreendente: ocuparam 241 escolas e saíram às ruas para protestar contra a medida e reivindicar participação no processo.

Escolas em luta é cinema de urgência, feito no calor do momento. Todo o material produzido pelos estudantes durante o momento da ocupação, seja com suas próprias câmeras ou com as câmeras que deixamos com eles, só poderia acontecer naquele instante, e a força daquele momento está impressa e reverbera durante todo o filme. Cinema de urgência também é a possibilidade do documentarista apresentar a sua posição no mundo e o seu ponto de vista político. Não há documentário imparcial ou que busque neutralidade diante das injustiças. Neste caso, Escolas em Luta apresenta o lado dos secundaristas e sua voz expressa em ‘corpo político’ a luta por direitos, e nós como realizadores vivemos essa experiência da tomada de posição. Tomar partido por um lado da luta é determinante para se lançar um olhar sobre a realidade”, contam os realizadores em conjunto sobre como foi documentar o momento em parceria com os estudantes.

O resultado é um filme potente e inspirador porque retrata por um lado a luta tensa que se deu nas ruas, a resistência e os enfrentamentos contra o poder público e seu aparato repressor, e por outro o cotidiano das ocupações e as formas de organização dos estudantes, o calor de um movimento novo, fresco, alegre, que evidencia o afeto e o cuidado com o outro, e leva como bandeira principal o direito à participação e reivindicação política em todas as instâncias da vida, a começar pela própria escola.

“Eu sempre tive a visão de que algo estava errado, mas não sabia o que era, até porque ninguém ensina pra gente na escola como funciona o sistema, ninguém fala pra gente que temos direitos básicos. As ocupações abriram meus olhos, me ajudaram a correr atrás de informação para entender direitinho como as coisas funcionam. Sou uma pessoa completamente diferente depois das ocupações, a Luta muda a gente diariamente”, conta Marcela Reis, ex-aluna da Escola Estadual Godofredo Furtado, mas que participou ativamente da ocupação na Escola Estadual Fernão Dias Paes, um dos polos da luta. Marcela participará do bate-papo após a sessão especial no CineSesc.

Para Cauê Albuquerque, ex-aluno da Escola Estadual Diadema — a primeira a ser ocupada e irradiadora do movimento –, a importância do processo de ocupação foi “extrema, pois achávamos que só íamos ocupar a escola em forma de protesto, em negação ao projeto que vinha do governo do estado, mas por mais estranho que seja, o lugar que mais ocupamos foi nossas mentes. Porque tivemos que dialogar com a população mostrar que estávamos dentro de nossos direitos, o quanto a reorganização iria nos afetar de forma negativa, e ainda exemplificar melhores modelos de educação. Ou seja, nos deu a responsabilidade de sermos políticos, professores e alunos”.

Cauê também participará do bate-papo após a sessão no CineSesc, que ainda contará com as secundaristas Lilith Cristina e Sophia Chablau, além dos realizadores do filme e mediação do psicanalista e cineasta Tales Ab’Saber.

O filme está circulando por diversos festivais e mostras, e acaba de ganhar o prêmio de melhor documentário na Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte, que aconteceu entre 17 e 21 de novembro último. Passou pelo 8º CachoeiraDoc (mostra competitiva de longas metragens, Bahia, em setembro); 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (mostra Terra em Transe, em setembro também); Mostra São Paulo Cinema Anônimo de Belo Horizonte (Fundação Clóvis Salgado, outubro); 9ª Semana Festival de Cinema (Rio de Janeiro, novembro); Mostra Cinema Urgente (São Paulo, novembro). Em breve estará também no Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro (novembro e dezembro).

Qualquer pessoa pode exibir o filme em seu espaço – Escolas em Luta ainda não tem data para entrar em cartaz nos cinemas, mas a partir de 2 de dezembro, dia da pré-estreia especial no CineSesc, estará disponível na plataforma da Taturana Mobilização Social.

Pela plataforma, qualquer  pessoa ou instituição pode organizar uma exibição coletiva em seu espaço e ser um parceiro do filme.  Basta se cadastrar e agendar a sessão para ter acesso ao documentário aqui.

A Taturana surgiu em 2013, em resposta ao contexto de distribuição no mercado audiovisual, com o objetivo democratizar o acesso ao cinema e potencializá-lo como ferramenta de impacto. Desde então, vem distribuindo filmes independentes em circuitos alternativos por meio de uma rede de parceiros exibidores (como universidades, escolas, centros culturais e cineclubes). Também concebe e realiza projetos de impacto social a partir de obras audiovisuais.

 

Fonte: Outras Palavras

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