Traços de vida: vamos falar da arte de rua?

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Basquiat: traços de uma vida é uma obra cinematográfica dirigida por Julian Schnabel, de 1996. O filme, que se passa em 1981, retrata um jovem artista, interpretado por Jeffrey Wright. Artista de rua, o jovem é descoberto por Andy Warhol, interpretado por David Bowie, e torna-se, repentinamente, figura ilustre do mundo artístico. O jovem retratado é Jean Michel Basquiat (1960-1988). Morador de rua, Basquiat tornou-se popular pela grafitagem, sendo figura reconhecida com prestígio na atualidade.

O filme traz à tona uma série de pontos para discussão, como cenas de racismo, que transpassam todo a obra. No entanto, é marcante a disposição de Basquiat em expressar, pela arte, suas idealidades e sentimentos. Ser reconhecido por sua arte significava ser reconhecido enquanto pessoa. Por sua condição social, valia-se do palco que possuía para se colocar: a rua.

O grafite como arte e voz

A arte contemporânea amplia o leque de formas de arte pública. Além dos monumentos e esculturas, o grafite tornou-se meio de expressão e transmissão de mensagens e ideias. O grafite é, por sua essência, urbano. Grafite é grafismo: é um modo de expressão estética por meio de linhas, curvas e cores. Em termos cotidianos, se poderia dizer que são desenhos feitos em espaços públicos, muros e paredes.

Porém, o grafite não se limita a ser um desenho na parede: é expressão coletiva e de coletividades. Ao interferirem no cenário da cidade, transmitem, denunciam, interagem e reclamam. São a realização do que há de mais próprio do ser humano: o comunicar-se. Em sua grande maioria, refletem criticamente questões sociais, sobretudo as relacionadas às minorias. Convidam os transeuntes à contemplação. Não são apenas rabiscos: são traços de vida, que gritam por vida.

Alex Vallauri (1949-1987) é figura de destaque do grafite brasileiro. Nascido na Etiópia, formou-se em Comunicação Visual e é considerado pioneiro da arte do grafite no Brasil. Vallauri concebeu a obra de arte como espaço de manifestação dos anseios e aspirações das pessoas e que, portando esses atributos, seria capaz de conversar com as pessoas. Respeitado pelo conjunto de sua obra, ainda que pouco conhecido publicamente, entendia que a arte do grafite era uma forma de atuação política, porque é política a ocupação da rua.


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Recentemente, ações públicas têm afrontado a liberdade de expressão e processos artísticos que vêm sendo construídos. Mais fundamental e subsidiária à discussão entre ser contrário ou ser favorável a esta medida é a questão de esta ser mais um caso de supressão da expressão pública, um direito fundamental.

Conforme Maísa Rezende Pires, “Liberdade de expressão é o direito de todo e qualquer indivíduo de manifestar seu pensamento, opinião, atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sem censura”. Afirma ainda que é “elemento fundamental das sociedades democráticas, que têm na igualdade e na liberdade seus pilares.” Nesse sentido, Leonardo Fernandes Furtado e Simone Mendes de Melo lembram que “pensar é o que nos faz humanos, e expressar o pensamento é o que diferencia os seres humanos. Garantir o direito à liberdade de expressão é, portanto, quesito imprescindível para a realização plena do homem, e alicerce de uma sociedade justa”.

É uma discussão complexa e urgente. O grafite é, em primeiro lugar, uma forma e um convite à participar da cidade. Bem cultural ou vandalismo? Muro cinza ou muro pintado? O que é arte? Grafite é arte? Quem determine o que é arte? Que arte é boa arte? Cultura para quê?

A seguir, você confere algumas referências que auxiliam na discussão.

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