Da África do Sul até a sede da ONU, passando por organizações, governos e personalidades em todas as latitudes. O mundo passou esta quarta-feira (18/7) celebrando os cem anos de Nelson Mandela numa jornada que serviu para recordar a vida do grande homem e reafirmar os valores da igualdade e da justiça, e até para certeiros ataques contra aqueles que impõem políticas migratórias baseadas na raça.
Em um ato celebrado na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, entre convidados como o ator estadunidense Forest Whitaker, o secretário-geral António Guterres e outros altos funcionários da entidade, foi divulgada a imagem do novo selo postal que comemora o natalício de Madiba.
“Mandela se erige hoje como um modelo dos valores universais: paz, perdão, humildade, integridade, paixão, respeito e serviço público”, manifestou Guterres. “Nos ensinou que estas não são só palavras nem ideais vazios, mas sim ações concretas, que todos podemos realizar”.
Guterres assegurou que Mandela entendia que cada um de nós temos em nossas mãos a capacidade de criar um mundo melhor no qual as pessoas são tratadas com igualdade e justiça, com independência de sua raça, religião ou sexo, e recordou as palavras do lutador: “Vencer a pobreza não é um gesto de caridade, e sim um ato de justiça, é a proteção de um direito humano fundamental, o direito à dignidade e a uma vida decente. Enquanto exista pobreza, não haverá verdadeira liberdade”.
Em mensagem escrita especialmente para o dia internacional dedicado ao líder sul-africano – que foi instaurado em 2009 pela ONU –, o secretário-geral afirmou que “o exemplo que deixou, de valentia e compaixão, ainda inspira o mundo inteiro. Nelson Mandela sofreu durante muitos anos no cárcere, mas nunca foi preso do seu passado”.
Mandela (1918-2013) foi o primeiro presidente eleito de forma democrática na África do Sul, o primeiro presidente negro do país, cargo que alcançou depois de passar 27 anos na prisão. Uma vez livre e no poder, investiu toda a sua energia nos esforços de reconciliação e em sua visão de uma África do Sul pacífica, multiétnica e democrática.
“Poucas vezes ao longo da história uma pessoa que tenha feito tanto para defender os sonhos do povo. Essa luta por igualdade, dignidade e justiça continua”, disse Guterres.
Em 2015, a Assembleia Geral estendeu o alcance do Dia Internacional de Nelson Mandela para pedir que as prisões operem de forma mais humanitária, e ensinar as sociedades em todo o mundo a tratar os prisioneiros como membros da sociedade, segundo as Regras Mínimas Padronizada para o Tratamento de Prisioneiros das Nações Unidas, também conhecidas como as “Regras de Nelson Mandela”.
As regras agregaram importantes garantias, incluindo uma absoluta proibição da tortura e do maltrato, assim como claras restrições com respeito ao uso do isolamento, instrumentos de contenção e registros invasivos.
No México, o presidente eleito Andrés Manuel López Obrador destacou a coincidência de duas efemérides: o nascimento de Mandela e a morte de Benito Juárez, um dos grandes líderes da história de seu país e lutador pela liberdade. “Efemérides de gigantes: hoje se fazem 146 anos da morte de Benito Juárez, e é o centenário do nascimento de Mandela. Duas culturas, dois grandes líderes e um ensinamento maior: a inquebrantável fé na busca do ideal da liberdade”, escreveu Obrador, em seu twitter.
Na África do Sul, a homenagem a Madiba (como o povo costuma chamar Mandela), incluiu uma marcha simbólica encabeçada por sua viúva, a moçambicana Graça Machel, e um foro organizado pelo ex-presidente Barack Obama, que pronunciou, em Johannesburgo, um discurso no qual celebrou a memória de “um verdadeiro gigante da história”.
“A luz de Madiba ainda brilha com muito esplendor”, afirmou Obama, convidado pela Fundação Mandela, que todos os anos convoca uma personalidade, para pronunciar um discurso, na data do aniversário de Mandela.
Obama recordou que ele conheceu Mandela pessoalmente em 2005, e que sua libertação, no dia 2 de fevereiro de 1990, provocou “uma onda de esperança que se apoderou do mundo”, depois de uma reclusão forçada e injusta.
Além do tributo ao destacado líder sul-africano, o ex-presidente dos Estados Unidos aproveitou a ocasião para criticar os políticos “autoritários”, que impulsam “políticas de terror e mentiras”, o que muitos consideram como uma alusão ao seu sucessor na Casa Blanca, Donald Trump.
“Não posso estar de acordo com alguém que afirma que a crise climática não existe, quando todos os cientistas dizem o contrário”, disse Obama, e agregou que “não é falso insistir no fato de que as fronteiras nacionais são importantes (…), mas isso não pode ser uma desculpa para políticas de imigração baseadas na raça”.
Em Mvezo, o povoado natal de Madiba, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, inaugurou uma clínica. “Mandela nos conduziu da brutalidade do conflito e da opressão até a terra prometida, uma terra de liberdade, democracia e igualdade”, declarou o mandatário.