Desproteção
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Jornal O Nacional: Quais são os sintomas que indicam que uma criança ou adolescente pode estar sendo vítima de violência sexual?
Jean Von Hohendorff: A gente sabe que tem um conjunto de diversos sinais que a criança pode emitir. Mas esses sinais não são exclusivos da violência sexual, mas sim de outras violências também. Sempre que uma criança tiver mais cabisbaixa, tiver uma tristeza proeminente, ansiosa, se isola, tem um certo rechaço a um adulto em específico, uma baixa do rendimento escolar e talvez, o sinal mais especifico da violência sexual seja ela começar a imitar o que foi feito com ela. Então ela desenvolver um comportamento hipersexualizado. Criança tem sexualidade, ela vai se masturbar, isso é natural porque ela está descobrindo o corpo dela, mas não é natural que ela encene uma cena de interação sexual que adultos conhecem ou então que ela se masturbe de forma excessiva demonstrando que ela está sendo exposta a um conteúdo que não é adequado e é dessa forma que ela está demonstrando. Agressividade também pode acontecer mais proeminente em meninos do que em meninas. Não quer dizer que meninas não possam se tornar agressivas, podem, mas a tendência é que isso aconteça mais com meninos.
ON Quais são os traumas a que essas vítimas podem ficar expostas?
Jean Von Hohendorff: Essas crianças vão ser expostas a um conteúdo sexual precocemente. Um dos primeiros traumas que podem acontecer é exatamente esse: de não saber lidar com essa informação que elas têm sobre interações sexuais e desenvolver esse comportamento hipersexualizado e isso pode ir à vida adulta. Então comportamento sexual de risco, ou o outro oposto que seria uma inibição sexual muito forte. O que a gente sabe é que cerca de 70% das crianças que passam por violência, não só sexual, desenvolvem um quadro chamado transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Em que a pessoa passa por um trauma e depois disso, ela desenvolve alguns sintomas relacionados a ansiedade e revivência daquele trauma. A memória traumática fica excessivamente vindo à tona na consciência dessa criança e quando vem aquilo é tão forte que desperta uma ansiedade muito exacerbada. A criança acaba evitando qualquer sinal ou qualquer circunstância que lembre o trauma. São crianças que estão sempre hipervigilantes, interpretam qualquer sinal como perigo, tem uma resposta de sobressalto muito maior e isso pode ir para a idade adulta. Se manifesta durante o sono também, com pesadelos.
ON Vítimas podem se tornar agressores?
Jean Von Hohendorff: Esse é um mito que se tem, de que todo o agressor foi vítima na infância ou que a criança vai se tornar uma agressora sexual. Primeiro é muito difícil que isso acontece em termos científicos, porque para eu poder fazer uma pesquisa com isso, eu deveria ter uma criança que sofre violência sexual e acompanhar ela durante toda a vida para ver se ela vai se tornar agressora ou não sem submeter ela a nenhum tipo de intervenção. Isso é antiético. Os estudos disponíveis foram conduzidos da seguinte forma: eu pego os agressores, em uma prisão por exemplo, e pergunto quais foram ou não vítimas na infância. Esses estudos chegaram à conclusão de que menos de um terço dos agressores que estavam cumprindo pena eram vítimas. Mas eles se declararam como vítimas. Se foram mesmo, a gente não tem como saber. Mas mesmo com a fragilidade desse estudo, um terço não é maioria, é menos do que a metade. Existem outros autores propondo que é menos de 5% das vítimas que se tornam agressoras. Não existe essa relação direta e se a criança passar pela intervenção necessária e adequada, ou seja, que a rede consiga acolher essa criança com profissionais capacitados para isso, ela vai ter uma vida normal, apesar de ter passado pelo trauma.
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